sábado, 4 de julho de 2015


É proibido driblar, de Adams Alpes

É proibido driblar! No futebol contemporâneo, intitulado por muitos teóricos do esporte como moderno, está terminantemente vetada a opção do drible. Os craques de hoje já não podem passar a bola entre as pernas do adversário, dar chapéus, tentar carretilhas, entre outros meios esportivos de fazer a bola ultrapassar os adversários de forma alegre e descontraída. E quem perde com isso é o futebol e, consequentemente, o público. E se perder o público, perde-se o encanto, a magia.
A torcida vibra com cada lance no estádio. Junto disso, grita olé e acompanha vidrada os dribles de um jogador, que se destaca, vai pra cima, tenta jogadas individuais, enfim, dribla. Todavia, no momento em que esse jogador tenta um drible, a mídia e os politicamente corretos de plantão infiltrados no mudo do esporte afirmam que tudo não passa de uma firula. Isso é inadmissível! Espere aí, vamos lá. Muita calma nessa hora. É bom que se diga que há uma grande diferença entre firula e drible. Este se faz necessário, tem objetividade, procura o gol depois de atropelar o adversário. Já aquele não passa de uma forma antiesportiva de humilhar o outro, de deixá-lo em maus lençóis. E o pior de tudo isso é que aceitamos as críticas aos jogadores que trazem alegria nas pernas, queimando-os vivos em grandes meios de comunicação, sem ao menos defendê-los por suas acrobacias que deixam o futebol mais interessante. Apenas baixamos a cabeça.
Assim, se continuarmos pensando dessa forma, será muito triste o futuro que visualizo no esporte mais popular do mundo. Jogadores como Garrincha, Pelé, Zico, Tostão, Rivelino, Ronaldo, entre tantos outros, não teriam mais lugar no chato futebol clube de hoje em dia. Sofreriam fortíssimas marcações, duríssimas críticas, mais duras que qualquer entrada do pior zagueiro do planeta. Eles levariam direto um cartão vermelho por tentar dar um chapéu, um vão de perna, uma carretilha. Sem contar que, com o tempo, não seriam relacionados para os jogos e terminariam a carreira em escolinhas de futebol tendo de ensinar jovens a tocar e dominar a bola, apenas.
Logo, a burocracia tomaria conta de cada linha fora e dentro dos gramados e nossos jogadores seriam muito mais robôs treinados, ou seja, táticos, do que talentosos. Contudo, espero que isso nunca aconteça. Quando ligo a televisão, quero ver dribles, show, espetáculo, torcida gritando e vibrando e muita, muita alegria, mantendo a magia do futebol viva por muito tempo ainda.

Caçapava, junho de 2015.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O romance moderno


Em tempos modernos, já não sei mais o que é o romantismo. A modernidade está transformando a ideia que tenho dele. Por exemplo: outro dia fui almoçar em uma rede de fast-food. Eu esperava meu prato, um frango empanado com arroz e batata frita, e um suco de limão. Enquanto eu aguardava meu almoço, observava as pessoas ao meu redor, especificamente os casais. Avistei três, todos de faixa etária diferente. Um casal era de jovens; o outro, de meia-idade; e o terceiro, de idosos.

Meu prato chegou. Comecei a comer, bem lentamente, continuando minha observação. Percebi que todos esses homens e mulheres não conversavam à mesa, sequer se olhavam, nem carinhos eram trocados gratuitamente, mesmo que discretamente. Achei muito estranho. Esses casais não conversavam, não se tocavam. Refleti sobre o que estava acontecendo, o que poderia não ser de hoje. Então, pensei que não deve ser obrigatoriamente só com esses pares de machos e fêmeas. Acho que sempre foi assim com quase tudo, com quase todos os animais. Com os supostos e futuros cônjuges, isso é mais visível, eles não conversam. Me pergunto: quando é que conversam? Quando têm de pagar contas?, decidir quem vai à reunião de pais na escola?, sobre quem vai levar o filho ao médico? e tantas outras responsabilidades que acumulam na vida?

Provavelmente, sempre deve ter sido assim. Desde antes de meus avós até este momento. Os casais devem pensar que a vida em casal se restringe aos momentos de conversas sobre os problemas, sobre os filhos e também aos momentos de sexo.

É uma pena observar que o romantismo, o toque, o olhar, a vida conjugal agradável e carinhosa é ceifada da demonstração pública em sociedade. Uma vez condenado o beijo em público, mesmo que seja um selinho, condenam-se também as demonstrações de carinhos, os toques, os olhares insinuantes; mata-se todo o romantismo, transformando a vida conjugal num ato mecânico, separado, ainda, pelo o que pode e o que não pode.

Realmente, a modernidade, pelo o que parece, veio pra revolucionar o mundo, mas prometendo respostas que até hoje não pode dar.



Adams Alpes, São Bernardo do Campo, agosto de 2013.

domingo, 22 de setembro de 2013

O terço branco pendurado
 

Era um domingo de primavera. O primeiro domingo de primavera, pra ser mais exato. Eu estava indo de ônibus da pequena cidade em que morei durante grande parte da minha vida, Caçapava, a Taubaté, cidade vizinha, onde nasceram eu e o Monteiro Lobato. De repente, depois de alguns minutos de viagem, volto minha visão dos pastos verdejantes da zona rural que o coletivo em que estava corta e vejo um terço branco pendurado. Esse terço estava onde as pessoas costumam levar as mãos pra se segurarem de trancos e solavancos. Então, num lapso de memória, aquele terço me fez lembrar de minha infância, de quando em todos os carros que andei era visível um terço pendurado no retrovisor. É óbvio que, no começo, eu não entendia o porquê daquilo nos carros. Porém, meus pais explicaram que era pra abençoar e, como diria minha avó, “benzer o carro, meu filho”, pra que nada de mal ocorresse com as pessoas de dentro do automóvel.

Contudo, aquele terço me fez pensar em como um simples objeto, cheio de bolinhas ligadas por uma cordinha e com uma cruz na ponta, poderia ser tão poderoso. É claro que não entendi isso de imediato, quando criança. E foram necessários anos e anos pra que isso acontecesse. Hoje, eu entendo que toda proteção vem do poder da fé, que, no meu ponto de vista, junto da liberdade, ninguém tira de alguém.

Com isso, me peguei pensando se não sabia se me sentia mais protegido no ônibus com aquele terço branco desconhecido pendurado. Apenas sei que sempre ando pra cima e pra baixo com santinhos em tudo o que tenho: carteiras de documentos, com RG, CPF e outros; carteira profissional; malas, mochilas etc. Ainda assim, acreditem: nunca fui assaltado, mesmo em cidades grandes e perigosas, como São Paulo e Rio de Janeiro, e sequer fiquei desempregado, desde que comecei a trabalhar.

Sendo assim, posso parafrasear Shakespeare e dizer: “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”, e uma delas é a fé. E o mais incrível foi que, ao voltar para Caçapava, no final do dia e no mesmo ônibus, lá estava o mesmo terço branco desconhecido, mas que tive a impressão de conhecer a minha fé.

 


Caçapava/Taubaté, setembro de 2013.
A balela do amor próprio
 

Não existe esse negócio de amor próprio. Tudo isso é papo furado de pessoas ressentidas. Esse ressentimento se explica, justamente, pela necessidade e da carência da pessoa sentir de que precisa mais do outro do que, realmente, de si. Logo, o tal sentimento de amor próprio que todo ressentido busca não passa de uma desculpa esfarrapada para ser aprovado, aceito, amado etc. pelo o outro ou pela sociedade.

Sendo assim, entrar em uma academia, grudar nos amigos, conhecer inúmeras pessoas que não ficarão em sua vida e a filosofia do “pego, mas não me apego” fazem parte de um problema ainda maior e mais complexo: a puríssima e desesperadora necessidade de ser aceito em grupo e, principalmente, pelo o outro.

Por isso, as pessoas malham, cada vez mais, horas e horas inesgotavelmente, para que a sociedade as aceite e para impressionar o outro. Também é por isso que elas conhecem e colecionam dia a dia pessoas novas para abrir o leque de opções e, como não deveria ser diferente, óbvio, para impressionar alguém, o novo, porque os que estão em sua vida, neste caso os velhos, não se impressionam mais.

Além disso, as pessoas pegam sem se apegar na tentativa incansável de um eterno esperar de que o outro pegue e se apegue nelas. Dessa forma, o mito de Narciso é a representação dessa eterna busca pelo amor próprio e, inclusive, pela a impressão causada no outro, isto é, dessa necessidade do outro: ele, Narciso, ao se olhar no lago, pensou se tratar de outra pessoa, uma vez que não conhecia sua fisionomia; assim, ao querer encontrar com essa outra pessoa, adentrou no rio, pensando que poderia se aproximar daquele outro que o dominou com sua beleza; talvez, nesse momento, percebeu que a imagem refletida no lago tratava-se de ser a dele mesmo.

Portanto, o propósito do amor próprio é sempre o outro, e não o auto, a si mesmo. E para piorar a minha indignação com essa balela do amor próprio, me irrito mias e mais ao abrir o facebook e ver posts sobre o amor próprio, hashtags e o escambal a respeito de como a pessoa age para reconquistar o amor próprio. Como eu disse, não passa de balela voltada para o outro.

 


Rio de Janeiro, setembro de 2013.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Canto Kaiowá

(para os índios Guarani-Kaiowá)



Meu bumbo a ressoar
Minha terra a clamar
Minha gente a chamar
É a hora de lutar

É a guerra pela paz
Da luta os ancestrais
Guarani-Kaiowá
É a morte ou só matar

Eu vejo nossa terra
De tempos deflorada
Somente deflagrada
E abraço nossa guerra

Da luta os ancestrais
Guarani-Kaiowá
Meu canto pela paz
No Brasil vai ecoar




Adams Alpes
São José dos Campos, outubro, 2012

domingo, 29 de julho de 2012


Lufadas de dragões
(para Denise Gouvêa)

A gente se misturava
Aos corpos que se misturavam
Aos copos que se misturavam
Às ideias
Às palavras
Aos pensamentos
Aos gestos
Que se encontravam
Que se concentravam
Em você e só você
Queimando o que me distanciava
Do que eu não podia ver
Na noite que se enche
De lufadas de dragões
Em becos sem saídas
Em espelhos sem imagens.


 [Adams Alpes]

Caçapava, 29/07/2012.

sábado, 23 de junho de 2012

O peixinho e o sonho (1988)



Como afirma Walter Benjamin (1985), é a partir das cores que as crianças aprendem. Com base nessa afirmação, pode-se levantar a hipótese de que o livro infantojuvenil tem utilizado mais de ilustrações, cores, traços e outros aspectos, para, cada vez mais, conquistar a criança do mundo contemporâneo. Isso é observado a partir da visível quantidade de livros que trazem, especialmente, menos palavras para contar histórias e mais recursos visuais, visto que a criança encontra-se em uma geração movida pelo contato com o áudio e o visual, a chamada geração Z, a qual está sempre conectada com o mundo e “antenada” com a tecnologia, além de estar em movimento constante, participando ativamente em redes sociais. No entanto, isso não justifica a publicação de uma obra infantil pautada apenas em ilustrações, deixando de lado a palavra, o discurso. Walter Benjamin (1985) ainda afirma que:

A imagem colorida faz a fantasia mergulhar sonhadoramente em si mesma. [...] A imperiosa exigência de escrever, contida nessas imagens, estimula na criança as palavras. (BENJAMIN, 1985, p. 241).

Logo, Castro (1984), na década de 1980, mostra que a união da palavra e da ilustração na literatura infantojuvenil faz-se importante para criar um discurso, que, a partir dele, a criança utilizará para criar seu próprio discurso e que, depois, incorporará a outros discursos para, mais tarde, pertencer e sentir-se parte da sociedade, processo que o autor considera totalmente normal no desenvolvimento humano e que cabe à pedagogia e aos livros, ou seja, à literatura infantil.
Com base nesses comentários, o livro a ser comentado denomina-se O peixinho e o sonho, publicado em 1988, pela Editora Dinâmica, de São Bernardo do Campo/SP, junto da Formato Editorial, de Belo Horizonte/MG. A história foi criada pelo casal que escreveu o livro, Regina Siguemoto, autora do texto, e José Carlos Martinez, ilustrador.
O livro conta a história de Tico, um peixinho que vive com seu avô, Tonico, em um rio poluído. Num dia, ao ouvir uma das histórias de seu avô sobre a existência de um rio limpo, colorido e cheio de vida, decide ir a busca desse “Eldorado” das águas. Durante sua viagem, embarca em algumas aventuras, até encontrar o rio que tanto procurava, com seu avô esperando-o.
O tamanho do livro é de 21 cm x 19,5 cm, fechado, e 21 cm x 39 cm, aberto, reproduzindo assim uma tela de TV ou cinema, deixando as ilustrações num tamanho grande, com algumas ocupando todo o espaço do livro aberto, ou seja, as duas páginas. As ilustrações são coloridas e estão em harmonia com a história, pois há momentos que ilustram, no sentido literal da palavra, o enredo, sendo, até então, apenas um complemento do enredo, não tirando a atenção, o foco e a importância do texto. Portanto, apenas as ilustrações não são suficientes para comunicarem à criança a história, o texto é necessário e faz-se de suma importância. Além disso, é perceptível que as imagens não propõem nenhum movimento, são estáticas, que apenas resumem o texto colocado em uma das páginas.
Ao pensar no uso das cores, é visivelmente forte a distinção entre o cinza e o colorido. Essas cores são usadas constantemente, pois ilustram a história: quando o texto trata do lixão, predomina o cinza; quando trata do rio limpo e da natureza, entra em cena o colorido das árvores e dos rios límpidos. Mesmo quando se fala do homem, a cor predominante é o cinza, o que seria uma maneira de criticar a intervenção do homem no meio, mostrando que tudo o que ele toca e com o que se relaciona é cinza, sujo, denotando que ele é o maior produtor de sujeira no mundo. Inclusive, há uma parte no texto que deixa bem claro essas hipóteses.

Tico descobriu que o mundo dos homens também era cinza. As casas eram cinza, os muros eram cinza, as calçadas eram cinza. Era cinza pra todo o lado. (SIGUEMOTO; MARTINEZ, 1988).

Apenas os objetos, que se encontram dentro do rio, isto é, que fazem parte do lixo, são coloridos, tanto no rio poluído quanto em outros lugares. Ao final do livro, quando o personagem principal encontra o rio limpo que procurava, tudo fica colorido.
O personagem principal é Tico, um peixinho criado por seu avô, Tonico. Tico coloca em sua cabeça a ideia de achar o lugar bonito e limpo que seu avô tanto falou que existia. Quanto aos nomes, Tico é uma diminuição de Tonico, o que traz a hipótese de que para Tico crescer e tornar-se adulto, um Tonico, deve alcançar a sabedoria de seu avô, ser experiente, aspecto que Walter Benjamin (1985) retoma em sua obra, ao discursar sobre a experiência e a falta dela no mundo contemporâneo.
A capa do livro não é chamativa. Predomina a cor cinza, porém o título aparece em vermelho. No entanto, a imagem de Tico numa espécie de “aquamóvel” – nome que ele dá à sua construção – passa a imagem de que o livro trará uma aventura, além de estar vinculada ao título, O peixinho e o sonho, sugerindo, realmente, uma jornada. Na página de rosto, há o nome do livro e a imagem de Tico pensando, segurando uma ferramenta, o que levanta a hipótese de que Tico é um peixinho inteligente, e que ao pensar, alcança o que deseja, realiza os sonhos, palavra que, sobretudo, faz parte do título.
Encontram-se, na narrativa, características literárias, como a presença das figuras de linguagem, iniciando a criança na linguagem literária e no mundo encantador da literatura, começando, primeiramente, pelos personagens, que são animais com características humanas, imitando assim as fábulas. Por causa disso, uma das figuras é a personificação, quando um dos personagens dá qualidades de ser humano ao “bumbum” do narrador, Tico, ao afirmar: “Ele [avô] anda à sua procura com o maior chinelo que o seu bumbum já viu.” [grifo meu] (SIGUEMOTO; MARTINEZ, 1988); além disso, percebe-se também a metonímia, ao tomar de uma parte (o bumbum) para representar o todo (o corpo, o personagem) que “vai levar uma surra”.
As ilustrações estão em duas dimensões (2D), aspecto que, como dito anteriormente, não passa a ideia de movimento, diferenciando-se do HQ, que contém quadros, sugerindo movimentos dos personagens, ferramenta utilizada no cinema, com o storyboard.
O livro faz brincadeiras com as palavras, como, por exemplo, no seguinte trecho:

[...] Até pensou em descansar, mas o chafariz tinha tanto lixo, que mais parecia o lixão do rio. O lixo ocupava todo o espaço, não cabia nem um Tico lá dentro. [destaques meus] (SIGUEMOTO; MARTINEZ, 1988).

Com isso, pode-se pensar, hipoteticamente, numa desautomatização de ditos populares, por substituir a palavra tico pelo substantivo próprio Tico, o que fornece novo sentido ao dito popular, o de que não cabe o Tico “personagem”. No entanto, com esse jogo de palavras, a criança entende que não cabe mais nada no lugar, um tico de gente, de nada, denotando a plurissignificação, a ambiguidade de que trata Ezra Pound em ABC da literatura.
Ao final, o livro ainda revela seu caráter pedagógico, o que era comum na literatura infantojuvenil entre as décadas de 1980 e 1990, pois após o personagem principal encontrar o rio que tanto buscou, o avô sai à procura dele para dar-lhe uma surra de chinelo, uma vez que seu neto saiu sem avisá-lo aonde iria, deixando-o preocupado, ou seja, a história passa ainda a lição de que as crianças devem avisar às pessoas responsáveis por elas aonde vão, com quem e o que farão, para não deixá-las preocupados.


REFERÊNCIAS
 
BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica – Arte e Política. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.

CASTRO, Manuel Antônio de. Literatura infantojuvenil. In: Rogel Samuel (Org.). Manual de teoria literária. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1984.

Exame.com. Seção – Pesquisa. “Geração Z é mais conectada, fuma menos e lê pouco”. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/geracao-z-e-mais-conectada-fuma-menos-e-le-pouco-diz-pesquisa>. Acesso em: 01 jun. 2012.

SIGUEMOTO, Regina; MARTINEZ, José Carlos. O peixinho e o sonho. São Bernardo do Campo: Editora Dinâmica; Belo Horizonte: Formato Editorial, 1988.

Veja on-line. Seção – Na internet. “A geração Z”. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/jovens/apresentacao.html>. Acesso em: 01 jun. 2012.

terça-feira, 22 de maio de 2012


Um dia desses, resolvi comprar um livro de poemas. É claro que fui à livraria. Comecei a procurar pela seção de poesia. Fiquei preocupado e minha tristeza começou. Eu não encontrava a poesia no meio de tantas estantes. Desesperado, fiquei. Meu espanto aumentou quando não vi as pessoas lendo poesia, sequer procurando por elas, perguntando por onde andava... E minha decepção se inflamou quando tive a certeza de que ali, naquela livraria, a poesia estava sepultada. É, acho que agora sim as pessoas haviam se fartado do lirismo. A mãe de todas as letras, do reino das palavras, havia sido expulsa de seu trono e enterrada num deserto longe, muito longe, para ser esquecida. Nem direito a um julgamento teve, uma última oração, um último pedido, súplica. Nem, ao menos, um esquartejamento para viva continuar nos corações e olhos dos leitores. Os que lá estavam queriam vampiros, lobisomens e mágicos, mas não sabem que a verdadeira magia só a poesia é capaz de realizar; por isso, poesia rima com magia, pois opera invocando mantras, palavras enfeitiçadas para nos transportar para a Pasárgada de Bandeira, a Itabira de Drummond, a São Paulo de Mário e Oswald, entre tantos outros lugares maravilhosos, fantásticos, mágicos.
Sem encontrar a poesia, resolvi escrever o meu próprio livro com o meu olhar de poeta errante e preguiçoso, que só observa e se liberta do fascismo da língua, pois, como disse Barthes, a língua é fascista, mas não por nos impedir de dizer, e sim por nos obrigar a falar.
Assim, acredito que a poesia ainda vive, resiste fortemente às areias do tempo e aos bits, bytes e teras de informações e também aos tabletes e e-books da vida.
Felizmente, para a minha alegria, somente naquela livraria, de um domingo recheada de leitores, a poesia estava sepultada, enterrada viva, porém amordaçada, mas não para sempre.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Morena, tenho um sopro no peito
com saudades de Itauna.
Morena, sopra meu peito pro Norte
pra escutar o forró embalando
nos cabelos seus a noite.
[Adams]