segunda-feira, 25 de maio de 2009

O INTELECTUAL MODERNO

Até um pouco mais de tempo, a vida nos cleros era sofrível. Atualmente, o lado da moeda é outro. Correndo na contramão do que chamaríamos de normalidade, é o intelectual que carrega a cruz da negação. Ser intelectual, hoje no país, é abdicar de todos os prazeres que a vida tem a oferecer. O intelectual faz voto de pobreza e de castidade: não enriquece, não tem vida social, não tem amigos, família e muito menos relações amorosas, quem dirá casar. Ser intelectual é ser o outro, a sombra, aquele que estuda a sociedade para o nada. Uma vida sem motivos irrisórios.
Conheço um intelectual que, aos 50 anos de idade, mora com os pais, não tem carro, mulher e filhos. Ele vive para os alunos dele, para os livros e suas teses e mais teses que não lhe rendem nenhum mérito sequer.
Ser intelectual é ser um alienado.
A sociedade e a juventude brasileira não querem uma vida voltada para a intelectualidade. Para o Estado o ditado é: quanto mais ignorante melhor. Vejam os índices de educação: semi-analfabetos formando-se no ensino médio e transformando o nível superior em ensino recauchutado. E mais: é nítida a inércia da intelectualidade no povo brasileiro, simplesmente pela presença dos mesmos políticos corruptos governando a nossa nação, justamente porque uma nação ignorante não tem poder de tirar os vermes imundos e engravatados de seus tronos empesteados de sangue e suor do povo brasileiro.
A intelectualidade é uma m****.
Os meus alunos têm uma perspectiva de mim. Engraçado. Há algum tempo era eu quem pensava que professores ou intelectuais não possuíam vida social. No entanto, atualmente meus alunos, ao contrário, me carregam para as mesmas festas que eles. Afinal de contas, em tempos como os nossos, ser intelectual não é cool.
Para a família, ter um filho intelectual é algo de extremo sentimento de orgulho e ao mesmo tempo de preocupação. É como diz Cazuza às mães, “é padecer no paraíso”. Os pais têm orgulho porque o filho é inteligente, questiona a realidade e procura encontrar formas de resolver as questões nacionais. No entanto, surgem minhocas sobre como o filho-intelectual sobreviverá, qual será seu ganha-pão etc. Perguntas importantíssimas para qualquer pai, pois não quer sustentar um “vagabundo” a vida inteira. Para alguns pais, intelectual é sinônimo de “vagabundice”. Agora, além dos artistas, os intelectuais somam-se à grade de desinteressados pela vida real, por dinheiro entre outros aspectos da modernidade. Engraçado como os papéis mudam com o passar do tempo.
E onde entra a mulher na vida do intelectual? Não entra! Nenhuma mulher quer um homem intelectual ao seu lado. O intelectual não diz “Te amo” sem antes fazer uma análise. O intelectual não transa sem antes traçar toda a metodologia de como serão todos os caminhos percorridos para o prazer, para o gozo, que chegam até comparar ao ato da criação divina. A mulher não consegue aguentar homens que se acham deus, que não acreditam nele ou que duvidam de sua existência. Já para algumas mulheres, o intelectual nem sexo tem. É apenas uma idealização do homem que gostariam de ter, mas que não passariam sequer um ano dividindo a mesma cama com eles, pois elas preferem os "cachorros".
Confirmando o que eu disse: ser intelectual no Brasil é f***!
Eu devia ter dado ouvidos ao meu velho pai: “Estude menino! Vá ser doutor! Vá ganhar dinheiro!”.


(Adams Alpes, Caçapava, 25 de maio de 2009).

O JAZZ, O SERTÃO E O AMOR

Deitado em minha cama, pensamentos absurdos não permitiam meus olhos calarem-se. Pensamentos mal treinados insistiam em segurar com palitos os toldos dos meus olhos tão cansados pelas cores do dia a dia. Não eram um arco-íris, nem uma selva de pedra, como São Paulo, e nem amarela, vermelha e alaranjada como o sertão, que agora estava azul. Eram cores difusas, que agora se aglomeravam desordenadamente.
Em meio a tudo isso, descobri o amor. O jazz silenciou os pensamentos absurdos e brotou em meus olhos e coração, o sertão, que agora estava debaixo d’água. O jazz me contagiou. Adentrou em meus ouvidos, alcançou meu coração, passeou pelas veias de meu corpo e alçou vôo à minha mente, um pouco perturbada pela madrugada seca e sonolenta. Pensei em corpos que mutilei em pensamentos impuros; no sertão que o sertanejo se enraíza por ele e por cada pedaço ou metro de terra laranja sem sabor de fruta; nas pessoas correndo solitariamente entre prédios, casas, fantasmas, desconhecidos sentados ou em pé em metrôs, que cortam o grande corpo humano que é São Paulo, mas dono de um coração grande, cheio, triste, solitário e duro, com sabor de cinza.
Embalado pelo jazz em minha cama, depois de lido que o Nordeste sofre um dilúvio e de sentir, num final de semana, que São Paulo é um grande vazio (apesar de transbordar de vidas), pude começar a entender o que é o amor. É a terra, que enquanto laranja e rachada sorri na face do sertanejo; é um estranho fazendo compras num supermercado e que continua desconhecido aos olhos de todos; sou eu, deitado na cama, com a caneta numa mão, o caderno na outra e nos ouvidos, o jazz, porque hoje, agora, estou jazz.
(Adams Alpes, Caçapava, 06 de maio de 2009).