quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Anotações

Há algum tempo, apaguei algumas anotações que fiz a lápis em folhas que depois se tornaram rascunhos – mostra da fragilidade do tempo e das coisas. Essas anotações, hoje, não são importantes, pois tenho manuais para consultar, os quais fazem daqueles rabiscos uma verdadeira perda de tempo. Me pergunto, será? Não acredito em tempo perdido; acredito em tempo mal empregado. Eu devia ter submetido meu tempo a coisas que, mais tarde, me trariam alguma recompensa.

No entanto, eu estaria enveredado pela teoria de um filósofo que assisti na televisão, que afirma que não existem pessoas naturalmente boas; todas são interesseiras, fazem algo buscando contemplar seu próprio interesse. É um pensamento um pouco pessimista, uma vez que coloca o ser humano como uma criatura totalmente egoísta, o que, em minha opinião, realmente acontece, ainda mais na sociedade em que nos encontramos atualmente: moderna, e que tenta correr mais rápido do que os ponteiros do relógio, mais rápido do que as marés.

Porém, sei que não posso descarregar toda a minha raiva na sociedade moderna, porque sei que o ser humano foi o tempo todo e sempre será esse poço de incertezas, paixões e motivos irracionais e egoístas. O ser humano já era assim desde os tempos primórdios, na Idade das Pedras, depois na Antiguidade Clássica, na Idade Média, no Século das Luzes, nas Revoluções que mudaram o mundo e, por fim, nos séculos XIX e XX, até a civilização pós-moderna.

Com isso, a cada dia que a sola dos meus pés enfrenta na estrada, descubro que tenho uma visão mais pessimista da humanidade. Portanto, chego à conclusão ou, melhor, à suposição de que não foi a serpente que ofereceu a maçã para Adão e Eva, mas eles quem enfiaram a fruta goela à baixo no bichinho. Depois dessa crueldade, com todas as letras, eu, no lugar de Deus, baniria cada bípede do Paraíso, pois ele é mais perigoso do que qualquer outro animal peçonhento perambulando pelo Jardim do Éden.


Adams Alpes

Caçapava, 2011.