segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

01 de dezembro de 1892.

Meu amigo Cornélio,


Tenho passado dias frustrantes. No auge da minha vida sexual, aos meus vinte e cinco anos, não consigo ter uma ereção feliz. Você sabe o quanto a minha esposa é linda e maravilhosa, e isto, é em todo o condado. Todos os meus amigos e vizinhos rasgam-me olhares ríspidos de inveja. Vejo isto enrugado em suas faces. No entanto, há noites em que a minha ereção é solitária.

Conheci minha esposa há pouco tempo. Apaixonamo-nos e casamos. Tivemos a certeza de que queríamos passar a vida em companhia um do outro desde o primeiro momento em que nossos olhares cruzaram-se na pequena vila desse condado.

Em nossos primeiros meses de namoro eramos fogosos e fugazes. Não existiam limites. As mazelas do mundo não eram problemas para nós. Os escritores ainda não tinham sido trazidos para a nossa cama. E assim, experimentamos todas as sensações que um estímulo sexual sensorial pode causar em corpos cobertos de desejos incontroláveis. Nesse momento, enxergava-me nos olhos dela. E, tenho comigo, que o desejo era recíproco. Atualmente, ela continua a se enxergar em minhas retinas. Só em minhas retinas. Só...

Mas, de alguns tempos para cá, tudo mudou. Não a vejo mais usando belas roupas apenas para me provocar. Se as usa é para mostrar aos outros como é linda e não para soltar as minhas sensações retraídas. Se ela se arruma é para os outros e não para despertar em mim, baldes e mais baldes de excitação, por assim dizer, contraída por sua vontade. E, se desenrolo a falar sobre o assunto de que a quero como minha amante, não faz cerimônia, desconversa e me leva a terrenos como o da literatura e o da filosofia. Quando digo que a quero como minha amante, escuto um agudo e áspero silêncio.

Sou feio? Sou adiposo ao extremo? Ou as pequenas lacunas de matéria adiposa que ocupam meu pequeno e indesejável ser são extremamente desgostosas? Sou um péssimo amante? Acho que encontrei algumas respostas. Não a fiz gozar como goza lendo um Nietzsche ou Proust. Não a fiz gozar como um poema nascido de sua alma. Não atingi a sua alma! Acho que nunca atingi. Talvez linhas encadeadas, perfeitamente em ritmo e sonoridade, façam-na atingir níveis intensos de prazer que eu não posso proporcionar. Talvez eu seja um verme inútil nessa vida que... Deixa para lá... Ainda confio no amor.

Mas, mesmo com tanta confiança, neste momento, meu amigo, sofro um estupro. É um estupro sexual romântico. É um estupro causado pela falta de um perfume, de toques, de pelos, caras, bocas e ancas entrelaçando-se e que sussurram doces perversões. É um estupro causado pela constante presença e ausência dentro do mesmo copo. E este copo não transborda, nem ao menos alcança dois dedos d’água.

Meu amigo, Cornélio. Diga-me o que fazer!? Imploro! Escute minhas súplicas!

De seu amigo,
Federico.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

SOLDADOS COLORIDOS

O arrozal é uma infantaria leve
que taticamente movimenta nos ventos
os corpos tremidos duma ação.

Ratatatatata... ratatatatata.... ratatatatata...
Pingos d’oiro ao lado dos in-divisíveis
cerram-se ao chão verde.

Os quepes pretos e as fardas brancas.
Outros, com os uniformes todos negros.
Enquanto as crianças: sujas d’lama...

Um carnaval de flores apareceu no meu sertão.
Um carnaval de flores fez-se sem intenção.
Um carnaval de flores...
Carnaval e flores...
Carnaval... Flores...




(Um poeminha para sair da rotina!)

18 de novembro de 2008.

Um ser muda o mundo. Este ser muda o mundo estrategicamente. É um Hitler a caminho do mundo! Este ser muda o mundo do pai, da mãe, de cada um dos irmãos – se os tiver – dos avós, dos avôs, dos tios e nessa a lista faz-se infinita.

Ainda assim, há outros mundos que mudam.
Para o país é mais um na fila do SUS esperando uma data para marcar um exame, é mais um para ter RG e CPF. É mais um para a Receita Federal controlar seus bens. É mais um para os bancos cobrarem a sua parcela de dívida no final do mês. É mais um para a polícia preocupar-se com a segurança e para realizar uma geral enquanto está a caminho de casa. É mais um para vender o voto para o político mais corrupto. É mais um sem educação. Sem moradia. Sem saneamento básico. É mais um debaixo da ponte, pedindo esmola ou é mais um na fila do INSS enquanto as pessoas reclamam que o velho cortou fila e tem benefícios demais para uma pessoa só.

Um ser muda toda a História. Pode fazer uma guerra ou por fim nela. Pode tornar-se mergulhador ou vendedor de marfins. Pode gritar pelos direitos da mulher ou espancá-las em praça pública e ainda não receber um castigo à muçulmana. Pode abusar do poder e repetir a dose sem ter problemas com a lei.

Este ser pode tudo ou nada. Mas, ainda assim, são os pais que decidem como guiarmos na estrada, mas sem a buzina e o colete salva-vidas. E chega a certo ponto que não adianta pular. A melhor maneira é enfrentar a colisão e sair fortificado para um caminho ainda mais longo, com perigos reais ainda maiores.

Um ser muda o mundo!

17 de novembro de 2008.

Um turbilhão de pensamentos bombardeia minha mente. Um mar de vidas novamente grita por socorro desesperadamente e, sem hesitar, não atendo a nenhum chamado. Minha angústia, nesse momento, é minha angústia.
O sol brilha radiante. Parece reinar absoluto, mas sente-se medroso. Esconde-se... devagar... devagar... Ele está entre as nuvens. Teme as nuvens. Teme não sair, nunca mais sorrir, não poder tocar e sentir o perfume que exala de corpos e flores.
Meus olhos não querem abrir. Mas tenho que abri-los. Minha vontade precisa e quer deitar-me. Continuo em posição fetal, para assim, esperar o carinho de minha mãe, que já não existe mais.
Suspiros matinais! Dê-me forças...

Angustiadamente, olho ao meu lado. Na cama um corpo que desconheço. Um corpo que não consigo ler. Este corpo me expulsa e me repulsa. Há tempos não o penetro como em meus sonhos. Esse sonho nunca existiu. Minha mãe o deu, mas outro ser tirou-o de mim. Não precisou de muito. Meu tio sempre disse: nunca confie demais em um animal que sabe empenhar uma pistola calibre 45.

MEMÓRIAS LITERÁRIAS

Olá a todos!
Começarei aqui uma frustrada tentativa de um livro.
É um livro de memórias. Preparem-se!

Obrigado!

domingo, 26 de outubro de 2008

ESTUPRO ROMÂNTICO

Sofri um estupro romântico.

A confiança não passa
de uns bilhetinhos com recados.
A fé não passa
de algumas imagens celestiais na parede.
A paixão não passa...
Opa! Espere um momento.
Essa já não existe mais,
nem em toques, em olhares
e em mais nada.
O amor?
Esse sim já passou...
E dele sobrou apenas os filhos.

Sofro de um estupro romântico.

Esperava mais de mim e de ti.
Assopramos demais o fogo da paixão
e o apagamos sem reascendê-lo.

Sofro de um estupro romântico.

Esperava mais da confiança,
da fé e da paixão.
Esperava mais de nossos corpos.
Esperava mias de nossos gozos.
Esperava mais de seus mil vocês
e do mesmo eu de sempre.

Sofro de um estupro romântico
e não tenho como declarar queixa
porque ainda não é crime amar demais.

Sofro de um estupro romântico!
Quero a minha virgindade de volta.
Quero voltar a desconhecer o gozo do amor.
Quero tudo como era antes de ser um adulto.

Sofro de um estupro romântico.
Quero ser um peralta novamente.
Criança sem medo, prazer e malícia.

Sofro de um estupro romântico.
Nunca mais serei o mesmo.
Que pena, amor, serei igual aos outros.

sábado, 25 de outubro de 2008

TERRA AVISTA

Um pequeno passarinho
pousou em minha janela.
Por que esta terra tinha de ser descoberta?

Em minha janela, apoiado,
num baforejo não vejo a mata,
o mar e as luzes reluzentes da cidade
que apenas me serve de dormitório.

Antes fosse como há 500 anos,
quando nossos ancestrais
comiam da terra e do mar.

Antes fosse como há 500 anos,
quando tudo era Greco-índico
e a vida não passava de uma leve ventania
nas águas, nas florestas, nas nuvens e nas estações...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Bolor...

No momento, estou com o livro, "Bolor" em mãos. Faço leituras pausadas desse incrível livro. Gostei muito das características da narrativa. É uma rapsódia. Memórias colocadas em folhas de papel como se fosse um diário. Muito interessante!
O tempo corre de maneira desfragmentada. Em um momento do livro está cronológico, em um outro, já não está mais e neste ponto você percebe que se trata de um romance com o foco narrativo em um tempo psicológico. Demais!

Recomento a leitura. Não irão se arrepender.

O livro causa algumas reflexões sobre o amor, a paixão, o quotidiano e outros aspectos que nos rodeiam na vida. Provoca questionamentos, mas nada que faça uma pessoa resolvida mudar de opinião.

Leiam! É muito bom!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

um pequeno bate-papo filosófico...

Algumas idéias pertubam-me nesse momento.
Estou lendo, Metafísica do Amor e Metafísica da Morte, do filósofo alemão, Arthur Schopenhauer. Célebre! Excelente livro.
Um filósofo de vida intensa, melancólica, mas que infelizmente não seguiu a sua filosofia.
Ultimamente, essa leitura tem me levado à algum tipo de tristeza, angústia desproporcional à condição de vida que tenho.
Não tenho motivos para tristeza, mas são tantos os pensamentos que me assombram, que tenho vergonha de tê-los e dizê-los a alguém.
Queria poder arrancar-lhes de meu encéfalo e prendê-los em um baú e jogá-los no fundo do mar. São pensamentos destrutivos, monstruosos, de péssimo gosto.
Ao lado de todos esses pensamentos, caminham minhas dúvidas diárias a respeito de tudo: da vida, do amor...

Atualmente, algumas sombras, fantasmas e preocupações me assolam com questões que quero ouvir a resposta, mas, tem que ser a resposta que quero ouvir e não a que tem que ser dita.

Enquanto essa tormenta de razões e emoções não cessa, fico, a cada passo, mais atormentado e, também, aliviado por algumas coisas que sei e que são somente minhas.
Enquanto essa tormenta não passa, continuarei a amar você, meu Amor.
Só peço que não deixe a tormenta levar nossos barcos para longe da costa, para perderem-se, desbravando horizontes que, sabemos, nunca nos levarão à lugar nenhum.

Sou e sempre serei seu.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

UM NATAL DIFERENTE

Meio dia de um domingo tão quente quanto um asfalto no deserto. Em meus sonhos, os calangos não conseguem atravessar a linha amarela que corta o asfalto. Os raios de sol espancam-me. É o dia me recebendo com bofetadas. Meu arcabouço dói e não suporta mais a posição fetal em que me encontro. Logo, meu estômago resolve tomar a frente de tudo e me tira de um estado de torpor.
Com passos leves, caminho lentamente até a cozinha. Abro a geladeira e não encontro nada para beliscar. Meu estômago faz contato comigo. Diz o que quer comer, mas, infelizmente, não posso atendê-lo. Então, viro-me para a despensa e nada encontro também. Ainda com os passos lentos, porém, agora tortos, sigo para a sala, pego o telefone e peço uma marmita “Demora mais ou menos uns trinta minutos para chegar, senhor”. A voz do outro lado nada informa e me aborrece. Aceito os termos propostos e espero por meu almoço. “Urrrghhhh!”, calma, meu amigo estômago, já, já, o almoço chega.
Sento em meu sofá, pulo de canal em canal, sem achar nada que agrade meus olhos. Minutos depois, resolvo me deteriorar. Mas, espere um minuto: como pode, em uma televisão com mais de cem canais, não existir um que me agrade? Apenas ouvi o silêncio dos meus pensamentos, que me empurravam para um abismo desconhecido por tantos que já tentaram e aqui não estão mais, para contar nenhum detalhe...
Estou no meu quarto, pego os saquinhos mágicos que escondo em um lugar sagrado – literalmente sagrado: debaixo de Nossa Senhora de Aparecida, que ganhei quando era criança para me proteger de todo mal (e ela me protege, esconde o pó mágico que me distancia dessa sociedade medíocre e condenada) – para ninguém me repreender ou dar um prejuízo de alguns míseros reais (ganhados com muito suor!). Chego à cozinha e na mesa de jantar faço o meu banquete. Monto um tapete branco, lindo, que se mistura às demais cores dos guardanapos em cima da mesa. O pó mágico, enfileirado, diminui um a um da mesa, como se fosse a última vez que faria aquilo na vida. A mesa está limpa. Meus pais jamais suspeitariam.
Enfim a marmita chega. Abro a porta. Pego o embrulho e o guaraná. Volto à cozinha. Caminho até a porta, para entregar o dinheiro sem troco ao moto-boy, assim facilito a vida dele. Antes de chegar à porta, sou levado ao chão como se uma marretada atravessasse o meu coração. Uma mão bem forte e pesada aperta meu corpo, igual ao abraço de uma jibóia. Por instante, uma onda cortante sai do meu estômago e sobe à cabeça e ao coração. Penso que vou explodir e que meus sonhos não passariam de sonhos. Que meus sonhos não passariam de noites dormidas sem um compromisso qualquer. Que minha cama seria apenas ocupada por mim e um enorme vazio nas noites frias.

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Oito horas da noite, de um domingo que acompanhou a temperatura do dia.
Entreabertos, os meus olhos ainda estão grudados por remelas e só vêem branco.
Ahhh... (pânico!). Tirem todo esse branco de perto de mim. Cadê as paredes coloridas do meu quarto? As paredes, os móveis, o chão, os lençóis... Tudo branco! Será que tudo isso é o céu? Será que encontro Deus aqui? Terei que esperar muito, igual aqueles consultórios, em que você espera um tempão para ser atendido pelo melhor médico da cidade? Será que morri? Como, se não me despedi de meus pais, de meus bichos e de todos que um dia fizeram algum significado em minha miserável sobrevida? Ou seria Deus um grande traficante, enfiado dos pés à cabeça dentro de um castelo de coca? Quem sabe não consigo uma vaga de sócio de Deus, hein? Minha avó e minha mãe, nessa hora, diriam que é pecado blasfemar. Que blasfêmia, que nada, afinal, negócios são negócios!
- Bom dia, senhor! Como está se sentindo agora? Um pouco melhor, garanto.
Essa voz não é estranha. Já ouvi essa sonoridade antes. Levanto minhas pálpebras, novamente e lentamente, já que tudo não é mesmo um sonho. A voz que eu ouvi era do médico que está cuidando de mim. Só a partir daí, consegui entender que se tratava de um hospital e que estava internado, sem risco nenhum de passar dessa para melhor ou me tornar sócio de Deus. Algumas pessoas, nessa hora, já estão comemorando o meu sono eterno. E eu aposto com você que sim.
Entra outra pessoa na sala, que não consigo identificar quem é. Passo, então, a ver dois corpos, escondidos, um pouco atrás da porta: um é o médico e depois de alguns movimentos, consegui ver que o outro é o moto-boy que havia levado minha marmita. Eles se abraçavam e se beijavam, como há muito não beijo e abraço uma mulher. Tudo feito muito bem timidamente, e ao ver aquela cena horrorosa, tive a vontade de gritar, pular do quarto onde estava. Neste instante, um mal-estar lançou-me de volta à vida.
- Senhor. Este é o Hector. Ele salvou a sua vida, hoje. Se não fosse ele chegar a tempo, o senhor estaria morto, de overdose, em casa e ninguém saberia.
Claro! Agora minhas memórias refrescavam meus pensamentos. Os dois são namorados; são homossexuais. Recordo-me brevemente deles, como poderia me esquecer?! Estavam em uma casa noturna um dia desses e os tratei de maneira totalmente desumana. Nem o pior de todos os seres rastejantes merecia as palavras duras, secas e amargas que lancei sobre eles. Igualo-me a um verme. Se antes, a vontade de pular e de gritar era grande e perturbadora, agora, diante de tais fatos, minha ignorância e estupidez me torturavam a alma, incomodavam profundamente minhas sensações e faziam transbordar de raiva minha consciência. O mal-estar se metamorfoseou em auto-repulsa.
De repente, um mar de lágrimas vertia de minha face. Um enjôo cortava minhas entranhas e apertava o meu peito contra o meu coração, esmagando, assim, minhas costelas, que os perfurava. Era essa a minha vontade neste instante. Que vida carreguei até agora, meu Deus?!
Depois do pequeno showzinho das minhas angústias, o que mais me comoveu, foi pensar e saber do fato deles terem nas mãos e na consciência o poder de decidir a vida de uma pessoa que os tratou muito mal e, em vez de se vingarem, salvaram uma vida. Uma vida ordinária, medíocre e ainda por cima, decadente. Uma vida vazia. Errante. Uma vida cheia de pecados, de crimes contra a humanidade e de vergonha.
O moto-boy poderia ter me deixado ali em casa e ir embora sem se preocupar comigo. Depois poderia rir, rir e se esbaldar em mais risos, até se realizar completamente. O médico poderia ter errado e dito depois que nada poderia ter feito por mim. Que eu havia exagerado na dose. Mas, não foram estes os rumos tomados...

Agora me dou ao luxo de acreditar nas pessoas. Em todas as pessoas, inclusive nos gays. Eles também amam, vivem, trabalham... fazem tudo o que uma pessoa “normal” faz. São tão gente como a gente. Tão humanos como qualquer outro humano que anda por ai, matando, roubando, praticando crimes cruéis contra todos sem graves razões.
Nesse dia, afirmo com todas as palavras que: FUI SALVO POR DOIS HOMOSSEXUAIS. E não tenho problemas nenhum em afirmar isto.

Por instante, as lágrimas cessaram o mal-estar, que deu lugar a soluços.
- O Natal deixa as pessoas bastante comovidas, não é mesmo?!
- Ahhh... como eu adoro o Natal! É época de presentes!