segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Canto Kaiowá

(para os índios Guarani-Kaiowá)



Meu bumbo a ressoar
Minha terra a clamar
Minha gente a chamar
É a hora de lutar

É a guerra pela paz
Da luta os ancestrais
Guarani-Kaiowá
É a morte ou só matar

Eu vejo nossa terra
De tempos deflorada
Somente deflagrada
E abraço nossa guerra

Da luta os ancestrais
Guarani-Kaiowá
Meu canto pela paz
No Brasil vai ecoar




Adams Alpes
São José dos Campos, outubro, 2012

domingo, 29 de julho de 2012


Lufadas de dragões
(para Denise Gouvêa)

A gente se misturava
Aos corpos que se misturavam
Aos copos que se misturavam
Às ideias
Às palavras
Aos pensamentos
Aos gestos
Que se encontravam
Que se concentravam
Em você e só você
Queimando o que me distanciava
Do que eu não podia ver
Na noite que se enche
De lufadas de dragões
Em becos sem saídas
Em espelhos sem imagens.


 [Adams Alpes]

Caçapava, 29/07/2012.

sábado, 23 de junho de 2012

O peixinho e o sonho (1988)



Como afirma Walter Benjamin (1985), é a partir das cores que as crianças aprendem. Com base nessa afirmação, pode-se levantar a hipótese de que o livro infantojuvenil tem utilizado mais de ilustrações, cores, traços e outros aspectos, para, cada vez mais, conquistar a criança do mundo contemporâneo. Isso é observado a partir da visível quantidade de livros que trazem, especialmente, menos palavras para contar histórias e mais recursos visuais, visto que a criança encontra-se em uma geração movida pelo contato com o áudio e o visual, a chamada geração Z, a qual está sempre conectada com o mundo e “antenada” com a tecnologia, além de estar em movimento constante, participando ativamente em redes sociais. No entanto, isso não justifica a publicação de uma obra infantil pautada apenas em ilustrações, deixando de lado a palavra, o discurso. Walter Benjamin (1985) ainda afirma que:

A imagem colorida faz a fantasia mergulhar sonhadoramente em si mesma. [...] A imperiosa exigência de escrever, contida nessas imagens, estimula na criança as palavras. (BENJAMIN, 1985, p. 241).

Logo, Castro (1984), na década de 1980, mostra que a união da palavra e da ilustração na literatura infantojuvenil faz-se importante para criar um discurso, que, a partir dele, a criança utilizará para criar seu próprio discurso e que, depois, incorporará a outros discursos para, mais tarde, pertencer e sentir-se parte da sociedade, processo que o autor considera totalmente normal no desenvolvimento humano e que cabe à pedagogia e aos livros, ou seja, à literatura infantil.
Com base nesses comentários, o livro a ser comentado denomina-se O peixinho e o sonho, publicado em 1988, pela Editora Dinâmica, de São Bernardo do Campo/SP, junto da Formato Editorial, de Belo Horizonte/MG. A história foi criada pelo casal que escreveu o livro, Regina Siguemoto, autora do texto, e José Carlos Martinez, ilustrador.
O livro conta a história de Tico, um peixinho que vive com seu avô, Tonico, em um rio poluído. Num dia, ao ouvir uma das histórias de seu avô sobre a existência de um rio limpo, colorido e cheio de vida, decide ir a busca desse “Eldorado” das águas. Durante sua viagem, embarca em algumas aventuras, até encontrar o rio que tanto procurava, com seu avô esperando-o.
O tamanho do livro é de 21 cm x 19,5 cm, fechado, e 21 cm x 39 cm, aberto, reproduzindo assim uma tela de TV ou cinema, deixando as ilustrações num tamanho grande, com algumas ocupando todo o espaço do livro aberto, ou seja, as duas páginas. As ilustrações são coloridas e estão em harmonia com a história, pois há momentos que ilustram, no sentido literal da palavra, o enredo, sendo, até então, apenas um complemento do enredo, não tirando a atenção, o foco e a importância do texto. Portanto, apenas as ilustrações não são suficientes para comunicarem à criança a história, o texto é necessário e faz-se de suma importância. Além disso, é perceptível que as imagens não propõem nenhum movimento, são estáticas, que apenas resumem o texto colocado em uma das páginas.
Ao pensar no uso das cores, é visivelmente forte a distinção entre o cinza e o colorido. Essas cores são usadas constantemente, pois ilustram a história: quando o texto trata do lixão, predomina o cinza; quando trata do rio limpo e da natureza, entra em cena o colorido das árvores e dos rios límpidos. Mesmo quando se fala do homem, a cor predominante é o cinza, o que seria uma maneira de criticar a intervenção do homem no meio, mostrando que tudo o que ele toca e com o que se relaciona é cinza, sujo, denotando que ele é o maior produtor de sujeira no mundo. Inclusive, há uma parte no texto que deixa bem claro essas hipóteses.

Tico descobriu que o mundo dos homens também era cinza. As casas eram cinza, os muros eram cinza, as calçadas eram cinza. Era cinza pra todo o lado. (SIGUEMOTO; MARTINEZ, 1988).

Apenas os objetos, que se encontram dentro do rio, isto é, que fazem parte do lixo, são coloridos, tanto no rio poluído quanto em outros lugares. Ao final do livro, quando o personagem principal encontra o rio limpo que procurava, tudo fica colorido.
O personagem principal é Tico, um peixinho criado por seu avô, Tonico. Tico coloca em sua cabeça a ideia de achar o lugar bonito e limpo que seu avô tanto falou que existia. Quanto aos nomes, Tico é uma diminuição de Tonico, o que traz a hipótese de que para Tico crescer e tornar-se adulto, um Tonico, deve alcançar a sabedoria de seu avô, ser experiente, aspecto que Walter Benjamin (1985) retoma em sua obra, ao discursar sobre a experiência e a falta dela no mundo contemporâneo.
A capa do livro não é chamativa. Predomina a cor cinza, porém o título aparece em vermelho. No entanto, a imagem de Tico numa espécie de “aquamóvel” – nome que ele dá à sua construção – passa a imagem de que o livro trará uma aventura, além de estar vinculada ao título, O peixinho e o sonho, sugerindo, realmente, uma jornada. Na página de rosto, há o nome do livro e a imagem de Tico pensando, segurando uma ferramenta, o que levanta a hipótese de que Tico é um peixinho inteligente, e que ao pensar, alcança o que deseja, realiza os sonhos, palavra que, sobretudo, faz parte do título.
Encontram-se, na narrativa, características literárias, como a presença das figuras de linguagem, iniciando a criança na linguagem literária e no mundo encantador da literatura, começando, primeiramente, pelos personagens, que são animais com características humanas, imitando assim as fábulas. Por causa disso, uma das figuras é a personificação, quando um dos personagens dá qualidades de ser humano ao “bumbum” do narrador, Tico, ao afirmar: “Ele [avô] anda à sua procura com o maior chinelo que o seu bumbum já viu.” [grifo meu] (SIGUEMOTO; MARTINEZ, 1988); além disso, percebe-se também a metonímia, ao tomar de uma parte (o bumbum) para representar o todo (o corpo, o personagem) que “vai levar uma surra”.
As ilustrações estão em duas dimensões (2D), aspecto que, como dito anteriormente, não passa a ideia de movimento, diferenciando-se do HQ, que contém quadros, sugerindo movimentos dos personagens, ferramenta utilizada no cinema, com o storyboard.
O livro faz brincadeiras com as palavras, como, por exemplo, no seguinte trecho:

[...] Até pensou em descansar, mas o chafariz tinha tanto lixo, que mais parecia o lixão do rio. O lixo ocupava todo o espaço, não cabia nem um Tico lá dentro. [destaques meus] (SIGUEMOTO; MARTINEZ, 1988).

Com isso, pode-se pensar, hipoteticamente, numa desautomatização de ditos populares, por substituir a palavra tico pelo substantivo próprio Tico, o que fornece novo sentido ao dito popular, o de que não cabe o Tico “personagem”. No entanto, com esse jogo de palavras, a criança entende que não cabe mais nada no lugar, um tico de gente, de nada, denotando a plurissignificação, a ambiguidade de que trata Ezra Pound em ABC da literatura.
Ao final, o livro ainda revela seu caráter pedagógico, o que era comum na literatura infantojuvenil entre as décadas de 1980 e 1990, pois após o personagem principal encontrar o rio que tanto buscou, o avô sai à procura dele para dar-lhe uma surra de chinelo, uma vez que seu neto saiu sem avisá-lo aonde iria, deixando-o preocupado, ou seja, a história passa ainda a lição de que as crianças devem avisar às pessoas responsáveis por elas aonde vão, com quem e o que farão, para não deixá-las preocupados.


REFERÊNCIAS
 
BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica – Arte e Política. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.

CASTRO, Manuel Antônio de. Literatura infantojuvenil. In: Rogel Samuel (Org.). Manual de teoria literária. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1984.

Exame.com. Seção – Pesquisa. “Geração Z é mais conectada, fuma menos e lê pouco”. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/geracao-z-e-mais-conectada-fuma-menos-e-le-pouco-diz-pesquisa>. Acesso em: 01 jun. 2012.

SIGUEMOTO, Regina; MARTINEZ, José Carlos. O peixinho e o sonho. São Bernardo do Campo: Editora Dinâmica; Belo Horizonte: Formato Editorial, 1988.

Veja on-line. Seção – Na internet. “A geração Z”. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/jovens/apresentacao.html>. Acesso em: 01 jun. 2012.

terça-feira, 22 de maio de 2012


Um dia desses, resolvi comprar um livro de poemas. É claro que fui à livraria. Comecei a procurar pela seção de poesia. Fiquei preocupado e minha tristeza começou. Eu não encontrava a poesia no meio de tantas estantes. Desesperado, fiquei. Meu espanto aumentou quando não vi as pessoas lendo poesia, sequer procurando por elas, perguntando por onde andava... E minha decepção se inflamou quando tive a certeza de que ali, naquela livraria, a poesia estava sepultada. É, acho que agora sim as pessoas haviam se fartado do lirismo. A mãe de todas as letras, do reino das palavras, havia sido expulsa de seu trono e enterrada num deserto longe, muito longe, para ser esquecida. Nem direito a um julgamento teve, uma última oração, um último pedido, súplica. Nem, ao menos, um esquartejamento para viva continuar nos corações e olhos dos leitores. Os que lá estavam queriam vampiros, lobisomens e mágicos, mas não sabem que a verdadeira magia só a poesia é capaz de realizar; por isso, poesia rima com magia, pois opera invocando mantras, palavras enfeitiçadas para nos transportar para a Pasárgada de Bandeira, a Itabira de Drummond, a São Paulo de Mário e Oswald, entre tantos outros lugares maravilhosos, fantásticos, mágicos.
Sem encontrar a poesia, resolvi escrever o meu próprio livro com o meu olhar de poeta errante e preguiçoso, que só observa e se liberta do fascismo da língua, pois, como disse Barthes, a língua é fascista, mas não por nos impedir de dizer, e sim por nos obrigar a falar.
Assim, acredito que a poesia ainda vive, resiste fortemente às areias do tempo e aos bits, bytes e teras de informações e também aos tabletes e e-books da vida.
Felizmente, para a minha alegria, somente naquela livraria, de um domingo recheada de leitores, a poesia estava sepultada, enterrada viva, porém amordaçada, mas não para sempre.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Morena, tenho um sopro no peito
com saudades de Itauna.
Morena, sopra meu peito pro Norte
pra escutar o forró embalando
nos cabelos seus a noite.
[Adams]

O poeta e seu eterno sofrimento em si

A poesia está para a filosofia, mas isso não faz de um poeta um filósofo. Há algum tempo, peguei-me pensando no ofício do poeta. Por que escrever? Li alguns livros para encontrar respostas a esse questionamento, discuti com alguns amigos que escrevem e outros que são leitores e, acredite, não encontrei a resposta. E continuo sem a resposta, mas acabei criando uma teoria, a qual vou tentar desenvolver nos próximos parágrafos, espero conseguir. A verdade é que Fernando Pessoa já disse em poesia o que direi aqui. Vejamos:

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

Fernando Pessoa deixa bem claro que o poeta, em minha interpretação, não finge a dor no sentido literal da palavra, ou seja, ele é a dor. Portanto, o poeta, a partir do momento que toma consciência de sua importância e “missão” tanto no mundo quanto com as palavras, torna-se dor, sofrimento, amor etc.; o poeta transforma-se em tudo que digere e depois derrama em sua poesia. Se o poeta discorre sobre o amor, ele é o amor; se trata da dor, ele é a dor; se discursa sobre a miséria, ele é a miséria, e assim por diante. Dessa maneira, posso citar Sartre, que define bem a metáfora da arte querendo ser a coisa:

Aquele rasgo amarelo no céu sobre o Gólgota, Tintoretto não o escolheu para significar angústia, nem para provoca-la; ele é angústia, e céu amarelo ao mesmo tempo. (SARTRE. Jean-Paul, 1999).

Portanto, com essas palavras, lanço minha teoria: o poeta vive num eterno sofrer, não porque sofre as mazelas do mundo ou porque sofre de amor, mas porque sofre por sentir, por querer ser a coisa. E é isso que o faz refletir sobre sua condição de homem perante o mundo. E ao ver que com todo o poder que tem sobre as letras e a linguagem, ainda assim não pode mudar o mundo ou acabar tanto com o próprio sofrimento como com o sofrimento do mundo, ou seja, o poeta sofre porque sofre com e pelo mundo. Por isso, defendo também a opinião de que não é todo mundo que pode ser poeta ou artista. Vejamos o que Sartre diz:

[...] depois de estabelecido um acordo, se as rosas brancas para mim significam “fidelidade”, é que deixei de vê-las como rosas: meu olhar as atravessa para mirar, além delas, essa virtude abstrata; eu as esqueço, não dou atenção ao seu desabrochar aveludado, ao seu doce perfume estagnado; não chego sequer a percebê-las. Isto significa que não me comportei como artista. (SARTRE. Jean Paul, 1999).

Atualmente, vivemos nessa sociedade que Sartre citou, na qual os artistas estão cada vez mais escassos, na qual as pessoas não enxergam mais além das coisas, por conta da rapidez do cotidiano, e os únicos que podem fazer isso são os artistas, mas não podemos esquecer que também há artistas que não ultrapassam esse limite do enxergar com outros olhos. Sartre afirmou que os poetas são homens que se recusam a utilizar a linguagem. (SARTRE. Jean Paul, 1999). Para confirmar, Barthes afirmou que a língua é fascista e sabemos que a língua é parte integrante da linguagem.

Há uns dias, estava passando por uma ponte e vi um motorista manobrando um caminhão, daqueles que carrega carros. O lugar em que o caminhão tinha que passar era tão estreito que qualquer pessoa pensaria que o motorista teria de fazer muitas manobras, como uma ré ou coisa parecida. Para minha surpresa, e até mesmo admiração, o motorista conduziu o caminhão de maneira magistral, como um maestro rege uma orquestra. Ele não precisou de ré, nem uma manobra a mais. O caminhão simplesmente passou igual a um pássaro voa no céu; o caminhão foi poético como o poema “Nadador” de Cecília Meireles. Eu enxerguei poesia em segundos que outros não enxergaram, ao contrário, havia pessoas buzinando para o motorista, pessoas correndo para pontos de ônibus, bicicletas ultrapassando carros e pessoas. Ninguém parou como eu parei para admirar e ver poesia em uma manobra de um motorista num caminhão repleto de carros. Parafraseando Sartre, as pessoas não foram artistas, mas eu fui. Mais tarde, ao ler um texto de Compagnon, deparei-me com a seguinte observação:

Lemos, mesmo se ler não é indispensável para viver, porque a vida é mais cômoda, mais clara, mais ampla para aqueles que leem que para aqueles que não leem. Primeiramente, em um sentido bastante simples, viver é mais fácil – eu pensava nisso ultimamente na China – para aqueles que sabem ler, não somente as informações, os manuais de instrução, as receitas médicas, os jornais e as cédulas de voto, mas também a literatura. Além disso, supôs-se por muito tempo que a cultura literária tornasse o homem melhor e lhe desse uma vida melhor. (COMPAGNON)

Com isso, em minha opinião, ler transforma o homem, só traz benefícios. Ler pressupõe um querer comunicar-se; pressupõe querer reunir letras para depois a despejar a alguém ou a algo. No caso do poeta, além de ler, que é indispensável, escrever é mais ainda; escrever está enraizado em suas veias como a vida também corre nelas. Ler e escrever acabam tornando-se ao mesmo tempo indispensável e necessário. Se ler torna o homem melhor, para o poeta, escrever o eleva a outro plano, traz evolução como homem. E, por isso, escrever, ser poeta, é sofrível, em minha opinião, pois a partir do momento que o poeta lê o mundo, quer resolver os problemas aos quais teve acesso, mas percebe que somente a escrita sobre esses problemas não resolverão nada. O poeta sabe que ao escrever não acabará com o sofrimento do mundo, das pessoas e de si por se sentir inútil num mundo que dá importância às coisas que julgam úteis. Assim, é fácil entender porque a literatura é um mar de angústia, e está no limiar da morte, pois em um mundo ligado tanto à utilidade, a literatura não é capaz de nada, de mudar nada, de transformar nada, por isso é tida por todos como inútil. E, a meu ver, é nesse ponto que reside a maior angústia e sofrimento do poeta: não conseguir ao menos ser útil numa coisa tida inútil, ou, ainda, transformar algo inútil em útil.

Francis Bacon também defendeu a leitura como sendo algo valioso para a vida do homem.

A leitura torna o homem completo, a conversação torna o homem alerta e a escrita torna o homem preciso. Eis porque, se o homem escreve pouco, deve ter uma boa memória; se fala pouco, deve ter a mente alerta; e se lê pouco, deve ter muita malícia para parecer que sabe o que não sabe. (BACON, Francis).

Portanto, para concluir minha ideia, registro que o poeta não é o ser que somente é as coisas que escreve, os sentimentos, sofrimentos. O poeta, ao depender da escrita, torna-se o eterno “ser incompreendido” por sentir um forte vazio no peito e não conseguir explicar às pessoas esse vazio, por sentir que sua “missão” na Terra nunca é cumprida, pois não consegue resolver problemas e muito menos dar importância a algo que já não importa mais, como a literatura, ou seja, ao final das contas, o poeta não se vê como o deus que todos o veem, mas que ao mesmo tempo ignoram.