Um dia desses, resolvi comprar um livro de
poemas. É claro que fui à livraria. Comecei a procurar pela seção de poesia. Fiquei
preocupado e minha tristeza começou. Eu não encontrava a poesia no meio de
tantas estantes. Desesperado, fiquei. Meu espanto aumentou quando não vi as pessoas
lendo poesia, sequer procurando por elas, perguntando por onde andava... E
minha decepção se inflamou quando tive a certeza de que ali, naquela livraria,
a poesia estava sepultada. É, acho que agora sim as pessoas haviam se fartado
do lirismo. A mãe de todas as letras, do reino das palavras, havia sido expulsa
de seu trono e enterrada num deserto longe, muito longe, para ser esquecida. Nem
direito a um julgamento teve, uma última oração, um último pedido, súplica. Nem,
ao menos, um esquartejamento para viva continuar nos corações e olhos dos
leitores. Os que lá estavam queriam vampiros, lobisomens e mágicos, mas não
sabem que a verdadeira magia só a poesia é capaz de realizar; por isso, poesia
rima com magia, pois opera invocando mantras, palavras enfeitiçadas para nos
transportar para a Pasárgada de Bandeira, a Itabira de Drummond, a São Paulo de
Mário e Oswald, entre tantos outros lugares maravilhosos, fantásticos, mágicos.
Sem encontrar a poesia, resolvi escrever o meu
próprio livro com o meu olhar de poeta errante e preguiçoso, que só observa e
se liberta do fascismo da língua, pois, como disse Barthes, a língua é
fascista, mas não por nos impedir de dizer, e sim por nos obrigar a falar.
Assim, acredito que a poesia ainda vive,
resiste fortemente às areias do tempo e aos bits, bytes e teras de informações
e também aos tabletes e e-books da vida.
Felizmente, para a minha alegria, somente
naquela livraria, de um domingo recheada de leitores, a poesia estava
sepultada, enterrada viva, porém amordaçada, mas não para sempre.
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