Era um domingo de
primavera. O primeiro domingo de primavera, pra ser mais exato. Eu estava indo
de ônibus da pequena cidade em que morei durante grande parte da minha vida,
Caçapava, a Taubaté, cidade vizinha, onde nasceram eu e o Monteiro Lobato. De repente,
depois de alguns minutos de viagem, volto minha visão dos pastos verdejantes da
zona rural que o coletivo em que estava corta e vejo um terço branco pendurado.
Esse terço estava onde as pessoas costumam levar as mãos pra se segurarem de trancos
e solavancos. Então, num lapso de memória, aquele terço me fez lembrar de minha
infância, de quando em todos os carros que andei era visível um terço pendurado
no retrovisor. É óbvio que, no começo, eu não entendia o porquê daquilo nos
carros. Porém, meus pais explicaram que era pra abençoar e, como diria minha
avó, “benzer o carro, meu filho”, pra que nada de mal ocorresse com as pessoas
de dentro do automóvel.
Contudo, aquele terço
me fez pensar em como um simples objeto, cheio de bolinhas ligadas por uma cordinha
e com uma cruz na ponta, poderia ser tão poderoso. É claro que não entendi isso
de imediato, quando criança. E foram necessários anos e anos pra que isso
acontecesse. Hoje, eu entendo que toda proteção vem do poder da fé, que, no meu
ponto de vista, junto da liberdade, ninguém tira de alguém.
Com isso, me peguei
pensando se não sabia se me sentia mais protegido no ônibus com aquele terço branco
desconhecido pendurado. Apenas sei que sempre ando pra cima e pra baixo com
santinhos em tudo o que tenho: carteiras de documentos, com RG, CPF e outros; carteira
profissional; malas, mochilas etc. Ainda assim, acreditem: nunca fui assaltado,
mesmo em cidades grandes e perigosas, como São Paulo e Rio de Janeiro, e sequer
fiquei desempregado, desde que comecei a trabalhar.
Sendo assim, posso parafrasear
Shakespeare e dizer: “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a
nossa vã filosofia”, e uma delas é a fé. E o mais incrível foi que, ao voltar
para Caçapava, no final do dia e no mesmo ônibus, lá estava o mesmo terço branco
desconhecido, mas que tive a impressão de conhecer a minha fé.
Caçapava/Taubaté,
setembro de 2013.
3 comentários:
Bonito texto.
Parabéns!
Bom garoto... belo texto!!!
Marcelinho - Ed. Poliedro
Quando se fala em Fé, não existe certo ou errado. Acredito que seu significado é bem pessoal, mas arrisco a dizer que a Fé é necessária. Serve para dar força..é ela que nos move e nos conduz a felicidade.
Belo texto!! Curti! rs
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