domingo, 22 de setembro de 2013

O terço branco pendurado
 

Era um domingo de primavera. O primeiro domingo de primavera, pra ser mais exato. Eu estava indo de ônibus da pequena cidade em que morei durante grande parte da minha vida, Caçapava, a Taubaté, cidade vizinha, onde nasceram eu e o Monteiro Lobato. De repente, depois de alguns minutos de viagem, volto minha visão dos pastos verdejantes da zona rural que o coletivo em que estava corta e vejo um terço branco pendurado. Esse terço estava onde as pessoas costumam levar as mãos pra se segurarem de trancos e solavancos. Então, num lapso de memória, aquele terço me fez lembrar de minha infância, de quando em todos os carros que andei era visível um terço pendurado no retrovisor. É óbvio que, no começo, eu não entendia o porquê daquilo nos carros. Porém, meus pais explicaram que era pra abençoar e, como diria minha avó, “benzer o carro, meu filho”, pra que nada de mal ocorresse com as pessoas de dentro do automóvel.

Contudo, aquele terço me fez pensar em como um simples objeto, cheio de bolinhas ligadas por uma cordinha e com uma cruz na ponta, poderia ser tão poderoso. É claro que não entendi isso de imediato, quando criança. E foram necessários anos e anos pra que isso acontecesse. Hoje, eu entendo que toda proteção vem do poder da fé, que, no meu ponto de vista, junto da liberdade, ninguém tira de alguém.

Com isso, me peguei pensando se não sabia se me sentia mais protegido no ônibus com aquele terço branco desconhecido pendurado. Apenas sei que sempre ando pra cima e pra baixo com santinhos em tudo o que tenho: carteiras de documentos, com RG, CPF e outros; carteira profissional; malas, mochilas etc. Ainda assim, acreditem: nunca fui assaltado, mesmo em cidades grandes e perigosas, como São Paulo e Rio de Janeiro, e sequer fiquei desempregado, desde que comecei a trabalhar.

Sendo assim, posso parafrasear Shakespeare e dizer: “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”, e uma delas é a fé. E o mais incrível foi que, ao voltar para Caçapava, no final do dia e no mesmo ônibus, lá estava o mesmo terço branco desconhecido, mas que tive a impressão de conhecer a minha fé.

 


Caçapava/Taubaté, setembro de 2013.

3 comentários:

Débora Fernandes disse...

Bonito texto.
Parabéns!

Anônimo disse...

Bom garoto... belo texto!!!

Marcelinho - Ed. Poliedro

Unknown disse...

Quando se fala em Fé, não existe certo ou errado. Acredito que seu significado é bem pessoal, mas arrisco a dizer que a Fé é necessária. Serve para dar força..é ela que nos move e nos conduz a felicidade.

Belo texto!! Curti! rs